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Sou pavio curto. O que é maturidade emocional?

O pavio curto é aquele que facilmente “explode” o famoso “tolerância zero”. A pessoa que age como um pavio curto na vida, é na verdade comparável a uma “criança mimada grande”, que nega-se a aceitar seus próprios limites e os limites dos outros faltando com o respeito a si e aos demais.

Em nosso aprendizado de relacionamentos, absorvemos nossa cultura e através dela aprendemos  a reagir. Enquanto bebês, precisamos da sensação de onipotência oferecida por nossa mãe ou cuidadores. Essa sensação é resultante de termos o que precisamos, no momento que precisamos. O bebê tem fome e recebe o alimento , tem frio e é acolhido, tudo isso num ritmo que o faz “pensar” que tudo faz parte dele, tanto a fome como  o alimento. Mundo interno e externo ainda estão confusos e misturados, é a fase em que o bebê ainda não possui a noção do que é dele e do que não é. Essa sensação primária de onipotência é extremamente importante e ajuda o bebê em seu desenvolvimento e na formação de sua identidade emocional. 

O esperado é que gradativamente o bebê passe a perceber esses limites ao passo que comece a vivenciar algumas pequenas frustrações, como por exemplo, ter de esperar pelo leite. Este delicado e complexo caminho do desenvolvimento humano foi  estudado em minúcias por vários especialistas em comportamento e desenvolvimento emocional como D. WINNICOTT, SPITZ, e outros; o objetivo não é trazê-lo por completo neste artigo, apenas utilizar alguns aspectos como base de raciocínio.

Durante nosso desenvolvimento caminhamos dessa sensação de Onipotência/Impotência para a percepção clara de nossos limites e potencialidades que poderíamos chamar de poder pessoal, ou simplesmente de maturidade emocional. Na vida adulta nos descobrimos interdependentes com o meio, precisamos nos relacionar para sobreviver, precisamos do outro e o outro de nós. A maturidade emocional se faz quando percebemos esta difícil e delicada inter-relação, pois para nos relacionarmos precisamos conhecer nossos limites e os limites do outro. A sociedade impõe regras inerentes a sua cultura e o ser humano impõe regras inerentes a sua saúde emocional.

Estamos todo o tempo nos relacionando em diferentes papéis sociais, quanto maior nossa clareza sobre nossos potenciais, limites e responsabilidades, maior nossa capacidade para perceber o outro como ele é, pois nos tornamos capazes de trocar de papel, nos colocarmos no lugar do outro, entendendo melhor suas motivações e atitudes. Ganhamos a possibilidade de tornar a vida mais “ensolarada”, e menos “nublada” por nossas desconfianças , medos e conclusões equivocadas. Vamos dar um exemplo: se  estamos nos sentindo carentes afetivamente teremos a tendência a olhar o mundo como povoado por seres egoístas e pouco afetivos. Não conseguimos ver aquilo em que não acreditamos, se acreditamos que não poderemos receber afeto, realmente não receberemos, simplesmente pelo fato de que não estaremos abertos a perceber o que  já temos, apenas o que nos falta.

Existem muitas pessoas que vivem se lamentando de suas amarguras e ressentimentos com o mundo, cobrando  algo que a muito elas não oferecem…amor, atenção, carinho e respeito. O pavio curto é na verdade alguém que tem dificuldade em aceitar seus limites e frustrações, não consegue lidar com eles, portanto grita primeiro numa desesperada tentativa de evitar a frustração. A fantasia associada é a mesma que o bebê tem, ou seja, de que não conseguirá sobreviver à dificuldade e que não tem recursos internos que o ampare. A nossa capacidade de tolerar frustração é a base da maturidade emocional principalmente porque nos dá a habilidade necessária para distinguir fantasia de realidade. O ser humano é falível, porém, cheio de potenciais que precisam ser descobertos para serem estimulados e aproveitados.

A energia de vida humana é o que nos move, o que nos impulsiona para saborear a vida, quando acreditamos que o mundo nos deve algo, que ele é “mau”, uma das saídas emocionais que algumas pessoas encontram é agredir o mundo, usando esta energia para este fim. O  mundo não é bom ou mau, ele é as duas coisas, como o ser humano. O “pavio curto” agride o mundo numa desesperada tentativa de se defender, como se ele tivesse antecipando o ataque que acredita que receberá.

Se você já está esmurrando a mesa, ao passo que vai lendo este artigo, não se preocupe, ser “pavio curto” é uma dificuldade emocional e não uma doença , portanto a busca de autoconhecimento e de superação de seus limites é possível e está a seu alcance. Não podemos esquecer que você que se considera uma pessoa de temperamento explosivo, pode aprender a utilizar essa sua energia à seu favor. Existem outros aspectos  também relacionados  a esta característica emocional, como a dificuldade de perdoar e de ser humilde  para reconhecer seus erros e suas dificuldades.

No processo psicoterapêutico buscamos desenvolver a autoconsciência ou seja, a capacidade de observar a si mesmo e descobrir o que sente, o que pensa e o que percebe aprendendo as diferenças sobre essas coisas e descobrindo novas formas de reagir, tornando-se mais “dono de si”. A arte de fazer escolhas ou nossa capacidade de tomar decisões está relacionada a noção de ter de perder algo para ganhar algo e relaciona-se a nossa capacidade de avaliar os reflexos de nossos atos, assumindo a responsabilidade pela conseqüência de nossas ações. 

maturidade emocional implica também na  compreensão  de que a onipotência é apenas uma ilusão criada por nossa mente inicialmente primária, para nos ajudar a sobreviver à nossa fragilidade emocional.

Precisamos desenvolver nossa capacidade de rir de nós mesmos, num movimento de aceitação tanto de nossas características boas como das “não tão boas”, para que possamos ter a humildade de tentar superá-las.

Negar nossas dificuldades é negar o humano que existe em nós

Direitos Autorais deste texto – Dra. Sirley Santos Bittu.
O texto está registrado de acordo com a lei de Direitos autorais.

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Sirley Bittu

Psicóloga especialista clínica, supervisora e
facilitadora certificada pelo EMDR Institute.

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