Há pessoas que se “arrepiam” só com a possibilidade de ficar dependente de alguém ou alguma coisa, passam a vida lutando contra isso, e algumas vezes tornam-se onipotentes, distantes e sós. E há pessoas que “tremem” apenas com a idéia de dependerem principalmente de si mesmo; confundem individualidade com solidão, abandono e rejeição. São as duas faces da mesma moeda, os primeiros temem se envolver e perder a sua individualidade e o outro extremo teme té-la. Na verdade ambos acreditam que a autonomia e a capacidade de cuidar de si, tomar as próprias decisões, fazer escolhas, está fora de seu controle, ou melhor, fora de si.
A DEPENDÊNCIA AFETIVA é um estado de imaturidade que faz parte do processo natural de desenvolvimento humano, ou seja, nascemos totalmente dependentes, tanto fisicamente como afetivamente. Com nossas vivências e experiências vamos evoluindo de forma gradativa buscando nossa independência emocional.
Algumas vezes temos clareza de nossas dificuldades, então nos resta pelo menos duas saídas: enfrentá-las e superá-las ou como costumo dizer …“dar a volta no quarteirão”… , mas, nem sempre a dependência afetiva é consciente.
Uma pessoa é dependente afetivamente quando sua autonomia está prejudicada, ela precisa de algo ou alguém para sentir-se segura e tranqüila, nas mais diferentes decisões em sua vida, desde as mais simples como decidir que roupa vai usar por exemplo, ou , até as mais difíceis, como que profissão escolher,… se muda de emprego ou não,… se continua namorando ou não, se casa ou não… , enfim, inúmeras situações onde está implícito a escolha.
Você que está lendo, deve estar se perguntando: …mas, todos nós não gostamos de uma ”opniáozinha” as vezes? Sim é verdade, pedir a opnião de alguém sobre algo não o torna dependente afetivo. A diferença está quando você depende realmente dessa opnião e não consegue seguir o seu desejo se ele não for aprovado se não houver o “aval ” de alguém.
O objeto de dependência entra na vida da pessoa como uma muleta, ocupa um espaço vazio. A dependência pode ser de uma pessoa específica, uma droga, uma atitude de carinho, uma palavra amiga ,ou mesmo de alguém que lhe possa ouvir ou dizer o que deve fazer.
Na verdade essas pessoas ou objetos tem uma única função para o dependente afetivo, dar a sensação de segurança que precisa para suportar problemas, tensões e dificuldades pessoais e/ou sociais. A questão é que a segurança não está nas relações que fazemos, não é algo que vem de fora é algo que existe ou não dentro de nós. Nossa segurança e autoestima são os reguladores de nossa maturidade emocional.
Jacob Levy Moreno, quando criou o Psicodrama partia do princípio que o ser humano é um ser social, influencia e é influenciado todo o tempo. No Psicodrama dizemos que toda a saúde e doença emocional nasce nas relações, ou seja são aprendidas durante o desenvolvimento através dos modelos que recebemos primeiramente por nossa família de origem e secundariamente através das demais relações que vivenciamos durante a vida. Nos primeiros anos de vida necessitamos da confirmação de nossas atitudes, da certeza de que nosso comportamento está sendo aceito pelas pessoas que amamos. Com o nosso desenvolvimento emocional, passamos a desejar e não mais necessitar dessa aprovação . Aprendemos a nos relacionar com o mundo pelas regras que recebemos em nossa família. A criança é espontânea e criativa por natureza, ninguém nasce “culpado” em ser espontâneo. A dependência afetiva , muitas vezes nasce e é sustentada por problemas no relacionamento familiar, pelos conflitos pessoais pela sensação de rejeição e de não ser aceito.
Certa vez recebi em meu consultório uma jovem de 22 anos, vou chama-la aqui de Joana. Joana veio para psicoterapia porque tinha muitas dificuldades afetivas, era brilhante aluna, fazia faculdade e tinha ótimas notas, mas tinha dificuldade de arrumar namorado, era introvertida, sentia-se feia e sem graça. Joana tinha uma grande amiga de quem falava muito. Estava sempre contando como sua amiga se saía bem com os rapazes e tinha várias paqueras , mas, em compensação tinha péssimas notas, dependia de suas “colas” para passar de semestre. Durante o processo terapêutico Joana percebeu que cada uma desempenhava um papel na relação, ou seja, uma cuidava dos estudos e a outra arrumava amigos e namorados, funcionavam como se fossem uma única pessoa.
Apesar de nunca ter percebido até então esse trato, era difícil vencé-lo, mesmo porque Joana não acreditava que pudesse ser alguém interessante, ou mesmo algum dia se sentir bonita. Nesse exemplo, Joana tinha dois caminhos possíveis: o primeiro era continuar nessa relação de dependência onde uma supostamente supria a necessidade da outra, ou escolher o segundo caminho, o mais trabalhoso e também o mais saudável : perceber e enfrentar seus limites e suas próprias dificuldades, para poder superá-los.
Na verdade ninguém é dependente sozinho, DEPENDÊNCIA AFETIVA é uma via de mão dupla, se uma criança é dependente afetivamente a mãe com certeza também o é, pois neste caso, a mãe é quem a estimula e acredita em seu potencial ajudando-a a ter a certeza que conseguirá superar suas dificuldades. Dessa relação, nasce a auto estima e a sensação de segurança pessoal. Todo o ser humano nasce com uma capacidade de cuidar de si, um potencial que precisa ser estimulado, se não recebe este estímulo torna-se dependente. Na prática acabam por não confiarem em si mesmas e em seu valor pessoal, deixam de oferecer o seu melhor na vida , no trabalho e em seus relacionamentos.
Para pais e/ou educadores, exercitem o respeito às características genuínas de cada criança, respeitando sua natureza espontânea e sua criatividade. É importante aprender que dar limite é prova de amor e é diferente de reprovação. Dar parâmetros é dar condição para a criança desenvolver responsabilidade e aprender a superar as frustrações.
Não podemos perder de vista o humano que existe em nós, somos criatura e criadores capazes e genuinamente, imperfeitos.
Direitos Autorais deste texto – Dra. Sirley Santos Bittu.
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